sábado, 9 de outubro de 2010

ESTRATÉGIAS EM HISTÓRIA

A formação do povo brasileiro
A diversidade da população brasileira: um ponto crucial na discussão de questões contemporâneas.

Atualmente, a questão do preconceito racial vem se tornando cada vez mais relevante no espaço escolar. Em diversas situações cotidianas, vemos que os alunos reproduzem comportamentos racistas ou incorporam ações de natureza racista que, muitas vezes, são socialmente aceitas por muitos de seus colegas. Ao mesmo tempo, percebemos que muitos professores reproduzem esse tipo de discurso ou não sabem lidar com a questão em sala de aula.
Para facilitar a abordagem do tema, escolhemos aqui uma canção de Arnaldo Antunes que pode abrir caminho para um modo bastante curioso de se abordar essa questão. Na canção “Inclassificáveis”, do disco “O silêncio”, já temos um título bastante sugestivo para abordar a questão do racismo em sala. Afinal de contas, seria possível dividir os brasileiros por raças? Será que o nosso povo pode ser reconhecido em características de natureza homogênea?
Lançando esses questionamentos, indicamos ao professor a escuta da resposta dos alunos para essas duas questões. Feita essa primeira consideração, sugerimos a escuta e a leitura da canção indicada. Abaixo, segue um trecho da letra:
que preto branco índio o quê?
branco índio preto o quê?
índio preto branco o quê?

aqui somos mestiços mulatos
cafuzos pardos mamelucos sararás
crilouros guaranisseis e judárabes

orientupis orientupis
ameriquítalos luso nipo caboclos
orientupis orientupis
iberibárbaros indo ciganagôs
[...]
aqui somos mestiços mulatos
cafuzos pardos tapuias tupinamboclos
americarataís yorubárbaros.

somos o que somos
inclassificáveis.
(ANTUNES, Arnaldo. Inclassificáveis. IN: O silêncio. São Paulo: Warner, 1996.)
Já na primeira estrofe, podemos notar a presença do mesmo questionamento que inicia a aula quando Arnaldo Antunes pergunta (ou, quem sabe, duvida) da divisão racial do nosso povo entre “pretos”, “índios” e “brancos”. Logo em seguida, ele passa a sozinho produzir uma resposta em que notamos a construção de outras definições étnicas também conhecidas por uma parte dos alunos como “pardos”, “mestiços”, “mulatos” e “mamelucos”.
Mais a frente, sugerindo que essas outras classificações, mesmo que híbridas, não podem esgotar as diversas misturas de raças, cores e feições que marcam a nossa população, o autor passa a inventar uma série de classificações inexistentes. Para tanto, faz uso de um recurso da língua portuguesa, o neologismo, que permite ao escritor criar novas palavras.
Na medida em que monta tantas palavras inéditas, acaba revelando que as possibilidades de criação de novas palavras é tão extensa quanto a mistura que marca a formação da nossa população. Desse modo, vemos que o título da canção se conforma com o argumento desenvolvido ao longo da letra.
Caso tenha interesse, o professor pode aproveitar dos neologismos da canção para desenvolver uma atividade bastante interessante, onde os alunos tentarão fabricar desenhos ou montagens que hibridem as características físicas dos povos citados em cada uma dessas novas palavras.


A crise do milagre econômico e o movimento operário
O colapso do milagre econômico determinou as primeiras manifestações contra o regime militar no Brasil.

Estudar o “milagre econômico”, na condição de fenômeno acontecido durante a Ditadura Militar, implica na consideração de seu impacto nas mais diferenciadas vertentes. Por meio do trato com esse tema, observamos a possibilidade de reconhecer e discutir as feições tomadas pelo governo que controlou o Brasil entre os anos de 1964 e 1985. No entanto, também sabemos que são poucos os recursos didáticos que nos permitem realizar esse tipo de trabalho.
Visando superar essa dificuldade, oferecemos o trabalho com um documento através do qual é possível estabelecer os impactos políticos e econômicos do “milagre”. Segue o texto abaixo:
“Para nós, operários, milagre é conseguir sobreviver com os baixos salários que recebemos. Para isso, somos obrigados a trabalhar 12 a 13 horas por dia, e muitos trabalham aos domingos, o que significa, na prática, o fim de uma das maiores conquistas da classe operária: a jornada de 8 horas e o descanso semanal.” (Manifesto da Oposição Metalúrgica de São Paulo, 1975.)
Nesse trecho do “Manifesto da Oposição Metalúrgica de São Paulo” temos um texto reivindicatório que questiona os efeitos positivos do chamado “milagre econômico”. Segundo o documento, o crescimento da economia brasileira, atestado em diversos documentos e pesquisas da época, não implicou em uma distribuição de renda mais ampla. Não por acaso, o manifesto em questão denuncia a extensão das horas de trabalho como efeito de uma política de baixos salários.
De fato, os efeitos do milagre econômico repercutiram na condução de grandes obras públicas e a ampliação do crédito para os setores médios da população. Com isso, os trabalhadores viveram uma situação marcada pelas longas jornadas de trabalho e o recebimento de baixos salários. Ou seja, nosso modelo de desenvolvimento se voltou para o emprego de nossas riquezas em ações que atingiam positivamente o grande empresariado e, em segundo plano, os setores médios da população.
Tomando o ano de publicação do documento, o professor pode expor aos alunos que o “milagre” já vivia um período de crise, onde a “Crise do Petróleo” impôs um cenário de retração e fim do desenvolvimento. Nesse contexto desfavorável, a situação da classe trabalhadora se agravava com uma crise econômica que afetou diversos setores da população. Mais do que o impacto econômico, o fim do milagre impunha a insatisfação contra um regime que já se mantinha há mais de uma década no poder.
Dessa forma, podemos ver que esse mesmo documento estabelece um momento de enfraquecimento do regime por meio de sua crise econômica. Observando o processo de distensão do regime, observamos que o desenvolvimento da crise econômica foi ponto de suma importância para que a redemocratização fosse possível. Afinal de contas, não seria fácil manter um governo ditatorial que não conseguisse atender a demanda por desenvolvimento, emprego e renda da população.
Com isso, mais que uma simples reivindicação decorrente da crise do milagre, observa-se que o documento trabalhado pode ser avaliado como um primeiro indício da crise política que se instala no interior do próprio regime. Ao destacar essas duas questões, o professor revela ao aluno que a ditadura não esteve ilesa a ações de oposição e que, em certo ponto, esse mesmo governo precisava de aprovação para sustentar sua posição frente à nação.

A cultura popular na Idade Média

O colapso do milagre econômico determinou as primeiras manifestações contra o regime militar no Brasil.
Estudar o “milagre econômico”, na condição de fenômeno acontecido durante a Ditadura Militar, implica na consideração de seu impacto nas mais diferenciadas vertentes. Por meio do trato com esse tema, observamos a possibilidade de reconhecer e discutir as feições tomadas pelo governo que controlou o Brasil entre os anos de 1964 e 1985. No entanto, também sabemos que são poucos os recursos didáticos que nos permitem realizar esse tipo de trabalho.
Visando superar essa dificuldade, oferecemos o trabalho com um documento através do qual é possível estabelecer os impactos políticos e econômicos do “milagre”. Segue o texto abaixo:
“Para nós, operários, milagre é conseguir sobreviver com os baixos salários que recebemos. Para isso, somos obrigados a trabalhar 12 a 13 horas por dia, e muitos trabalham aos domingos, o que significa, na prática, o fim de uma das maiores conquistas da classe operária: a jornada de 8 horas e o descanso semanal.” (Manifesto da Oposição Metalúrgica de São Paulo, 1975.)
Nesse trecho do “Manifesto da Oposição Metalúrgica de São Paulo” temos um texto reivindicatório que questiona os efeitos positivos do chamado “milagre econômico”. Segundo o documento, o crescimento da economia brasileira, atestado em diversos documentos e pesquisas da época, não implicou em uma distribuição de renda mais ampla. Não por acaso, o manifesto em questão denuncia a extensão das horas de trabalho como efeito de uma política de baixos salários.
De fato, os efeitos do milagre econômico repercutiram na condução de grandes obras públicas e a ampliação do crédito para os setores médios da população. Com isso, os trabalhadores viveram uma situação marcada pelas longas jornadas de trabalho e o recebimento de baixos salários. Ou seja, nosso modelo de desenvolvimento se voltou para o emprego de nossas riquezas em ações que atingiam positivamente o grande empresariado e, em segundo plano, os setores médios da população.
Tomando o ano de publicação do documento, o professor pode expor aos alunos que o “milagre” já vivia um período de crise, onde a “Crise do Petróleo” impôs um cenário de retração e fim do desenvolvimento. Nesse contexto desfavorável, a situação da classe trabalhadora se agravava com uma crise econômica que afetou diversos setores da população. Mais do que o impacto econômico, o fim do milagre impunha a insatisfação contra um regime que já se mantinha há mais de uma década no poder.
Dessa forma, podemos ver que esse mesmo documento estabelece um momento de enfraquecimento do regime por meio de sua crise econômica. Observando o processo de distensão do regime, observamos que o desenvolvimento da crise econômica foi ponto de suma importância para que a redemocratização fosse possível. Afinal de contas, não seria fácil manter um governo ditatorial que não conseguisse atender a demanda por desenvolvimento, emprego e renda da população.
Com isso, mais que uma simples reivindicação decorrente da crise do milagre, observa-se que o documento trabalhado pode ser avaliado como um primeiro indício da crise política que se instala no interior do próprio regime. Ao destacar essas duas questões, o professor revela ao aluno que a ditadura não esteve ilesa a ações de oposição e que, em certo ponto, esse mesmo governo precisava de aprovação para sustentar sua posição frente à nação.
A cultura popular na Idade Média

As obras de Debret são grande fonte de compreensão dos costumes do Brasil no século XIX.

A questão da chegada da Família Real no Brasil, apesar de todo o realce dado aos duzentos anos desse fato, é usualmente apresentada de forma bastante esquemática. Geralmente, o professor enfoca as principais ações políticas que envolveram a administração joanina e relaciona tais feitos com o processo de independência da nação brasileira. No entanto, essas questões ainda contam com um importante leque de questões relacionadas à História Cultural.

A transferência de uma monarquia para um país colonial era um fato nunca antes acontecido na História das Américas. Além disso, podemos salientar que a chegada da realeza lusitana envolve um processo de choque entre culturas que, sem dúvida, evidencia um lado bastante interessante desta história. Entretanto, para apresentar a riqueza dessa experiência em sala de aula o professor deve contar com uma extensa gama de fonte e materiais.

Para orientar esse tipo de trabalho, sugerimos que o professor selecione o trecho de uma obra que relate sobre o modo de vida, os valores, práticas cotidianas e hábitos de um monarca no início do século XIX. Paralelamente, destaque fontes históricas (documentos, pinturas ou obras literárias) em que se possa observar o cotidiano do ambiente colonial brasileiro. Dessa maneira, abrem-se condições para que as diferenças culturais sejam visualizadas por toda a classe.

Com o objetivo de fixar melhor essa questão da diferença, privilegie a fala de alguns alunos que viveram esse tipo de experiência cultural. Alunos que já tiveram de se mudar da cidade grande para o interior ou para outra região podem dimensionar de forma próxima e contemporânea o processo de mudança e adaptação. Depois disso, tente aproximar o tema com a discussão de alguns itens principais sobre a chegada da família real.

Um tema bastante intrigante pode ser explorado por meio do estudo dos hábitos alimentares do Brasil durante século XIX. Para explorar esse tipo de temática, sugerimos a exposição do quadro “O jantar no Brasil” (topo) de Jean-Baptiste Debret, onde podemos observar alguns dos hábitos assinalados por esse pintor francês. Além disso, a escolha selecionada de alguns trechos do livro História da Alimentação no Brasil, de Câmara Cascudo, também serve como fonte a ser criticamente analisada pelos alunos.

Explorando um bom leque de informações, os alunos podem ser incumbidos de um trabalho final em que busquem encenar alguns traços desta época. Para tanto, o educador pode propor a organização de um sarau cultural envolvendo a declamação de poesias, a leitura de textos e a degustação de alguns pratos da época. Cada grupo responsável pela apresentação deve previamente entregar um roteiro escrito que servirá de base para a futura avaliação do professor.

Com a realização desta atividade, o professor deixa de salientar única e exclusivamente as questões de ordem política e econômica de uma época. Nesse tipo de atividade, o passado ganha cores, cheiros e gestos impensáveis em uma aula amarrada a concepções limitadas de compreensão histórica.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola





A imigração no século XIX e a questão racial
Os orientais sofreram discriminação ao chegarem às terras brasileiras.


A amplitude de assuntos que circundam a História, em muitas ocasiões, promove a seleção de determinados assuntos e detrimento de outros. Quando falamos sobre discriminação racial, por exemplo, sempre tendemos a acreditar que a relação de conflito entre negros e brancos encerra a questão. Contudo, podemos ver que o problema do preconceito e da discriminação se voltou contra outros grupos.

No século XIX, a expansão da economia cafeeira e a retração do comércio de escravos motivaram vários produtores a importarem mão de obra de outras nações. Em pouco tempo, povos de diferentes nacionalidades viriam a redesenhar as relações de trabalho no país e promover uma nova seara de questões. Nesse aspecto, pretendemos destacar aqui alguns documentos que nos revelam o repúdio contra os povos orientais.

Pra realizar esse trabalho, sugerimos que o professor trabalhe com duas interessantes documentações em que notamos a desconfiança de nossas autoridades médicas e políticas com relação à entrada dos “chineses”.

Primeiramente, destacamos a fala do médico Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, que, em 1878, registrou os seguintes dizeres na obra “Reflexões sobre a colonização no Brasil”:

Por toda parte onde se introduziram os chineses, os seus crimes, a indolência para os trabalhos rudes, a propensão para o roubo, os têm de tal modo fotografado que o molde existe por onde quer que eles passem.

Logo em seguida, o professor pode salientar o discurso de um deputado provincial paulista, que realizou a seguinte constatação no ano de 1880:


(...) Nós, senhor presidente (presidente da Assembleia Legislativa), não queremos o chinês para conviver conosco, para aliar-se às nossas famílias, para envolver-se em nossa vida pública (...). o chinês é refratário à civilização do ocidente; o chinês, ciosos de suas tradições, é egoísta, não se envolve nem na nossa vida política, nem na nossa vida privada..

Através destas duas citações, podemos observar que a entrada de imigrantes no Brasil empreendeu o despertar de noções raciais que inferiorizavam os povos orientais. De fato, essa visão negativista se assentava em teorias que transitavam a ciência do século XIX. Nessa época, vários intelectuais defendiam a existência de uma hierarquia de raças em que negros e orientais ocupavam uma posição inferior por causa de certas imperfeições de ordem física, moral e psicológica.

Hoje em dia, bem sabemos que essas teorias raciais não têm respaldo científico. Entretanto, podemos observar por meio destes documentos que a discriminação se manifesta em várias instâncias e, no caso do Brasil, não se limitou ao universo da população negra. Caso tenha interesse, o professor pode encerrar este conteúdo expondo as influências orientais na cultura brasileira.


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

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